13 de maio de 2015

tabula rasa

Tem coisas que a gente aprende e não tem quem nos faça esquecer. Na minha vida escolar, eu nunca tive rotinas muito disciplinadas de estudo. As boas notas (pelo menos até entrar no IFRN... hehe) eram resultado de pouco esforço, na verdade. Porque o que eu sabia ninguém tirava de mim. Simplesmente prestando atenção eu conseguia reter o conteúdo que precisaria para as provas. E se o conteúdo me interessasse, então ele estava retido pro resto da vida.

Eu vivi uma paixão intensa por História e Geografia principalmente na sétima e oitava séries. A professora Vanubia não só dava aulas brilhantes, mas também me cercava de incentivo pra não deixar esse fogo apagar – quer fosse nos recadinhos que ela escrevia nas minhas provas, quer ajudando a realizar as fantasias que eu criava, como a peça que fizemos da lenda do Minotauro em uma das feiras de ciências da Escola e Curso Crescer.

Lembro que foi um esforço aceitar que a época de estudar as Civilizações Clássicas tinha passado. Logo chegou a Era Medieval... E logo chegou o Iluminismo. E é bem verdade que, hoje em dia, eu não conseguiria atribuir datas e nomes aos bois dessa era. Mas se você me perguntar quem formulou a teoria da Tabula Rasa (do latim, tábua raspada), eu vou encher os pulmões e dizer com segurança que foi o inglês John Locke, no século XVII – mesmo já fazendo mais de 10 anos dessa aula, e mesmo nunca mais tendo precisado recorrer a esse conteúdo no ambiente escolar. Eu aprendi pra sempre.

Segundo Locke (e nas minhas próprias palavras), todos nós nascemos como folhas em branco – tabulas rasas, que vão sendo preenchidas e esculpidas ao longo da vida. Adoro pensar que, enquanto experimento, leio, aprendo, questiono, penso, teorizo, observo, duvido, acerto e erro, estou preenchendo a minha tabula. Na minha opinião, quando a gente encara a vida assim, fica mais fácil valorizar o que vem ao nosso encontro. Afinal, seria terrível chegar ao final dos meus dias e constatar que a minha tabula consiste em retas e pontos simples e pouco coloridos, enquanto ela poderia ser um emaranhado de conexões, desenhos, estampas das mais diversas cores.

Penso sempre na minha tabula, mesmo quando a estou preenchendo por métodos menos convencionais – com uma grande mochila nas costas viajando sozinha pelo leste europeu, por exemplo. Não suporto admitir que, em muitas ocasiões, eu poderia ter completado espaços de forma muito mais profunda ou em áreas diferentes. Mas o que eu não fiz, eu não fiz. E acho bem normal que, em alguns momentos da nossa vida, o nosso ritmo de trabalho com a tabula varie.

Tudo isso pra dizer que, quando minha ficha finalmente caiu e me deixou perceber que eu estou em um país que é referência absoluta em Educação, os cantinhos vazios da minha folha em branco começaram a gritar por preenchimento. Eu queria ter uma experiência no ambiente universitário alemão. E nada melhor do que a motivação pra fazer a gente agir e descobrir os caminhos, né? Em um mesmo dia, enviei e-mails pra todas as universidades de Munique, perguntando se ofereciam vagas para alunos visitantes.

O que eu queria aprender? Qualquer coisa. E quando a Universidade Técnica de Munique, umas das melhores do país, me respondeu com uma lista das disciplinas que eu poderia cursar, escaneei mentalmente cada uma das matérias disponíveis pra tentar entender qual faria mais sentido.

De Medicina a Educação Física, tinha tudo – menos Comunicação, que é a minha área. Juntando As e Bs, Xs e Ys, preferências pessoais e horários, e principalmente levando em conta o que este país tem de mais forte, tomei minha decisão: cursar as disciplinas de Konstenrechnung (Contabilidade) e Volkswirtschaft (Economia). Fui hoje pela segunda vez e já não vejo a hora de chegar a semana que vem. Quem diria?... Logo eu, que nos últimos meses de faculdade estava quase que literalmente me arrastando pras aulas, voltei correndo de braços abertos pro ambiente universitário – ainda que numa área completamente diferente da minha formação! Eu mal acredito no quanto estou encantada com essa oportunidade e com o que tenho aprendido. Mas os detalhes dessa experiência eu só vou contar no próximo post. De brotos acadêmicos a lições de macroeconomia, tenho muito pra falar!

Hoje à tarde precisei de um tempinho pra pensar e agradecer a Deus por tantas oportunidades legais, como essa. De verdade, gosto muito da história que eu e Ele estamos escrevendo. Saí de bicicleta e, no mesmo tipo de motivação que me faz entrar num auditório lotado pra aprender algo que não é minha obrigação saber, tomei um caminho pelo qual nunca tinha passado antes. Enquanto deixava o queixo cair com os prédios lindos e o verde fantástico ao meu redor, fui lembrada mais uma vez do quanto é valioso a gente se abrir pro que é positivamente novo. Tomei banho de chuva e deixei mais essa marquinha estampar a minha tabula - que não está mais tão rasa...


O que você vai colocar na sua folha em branco hoje?