Mas olha como eu tô exemplar! Passando aqui dois dias seguidos :D Tudo bem, gente?
Como eu disse ontem, ainda tem bastante história pra colocar em dia. Então vamos lá!
A viagem até a Romênia, no primeiro fim de semana de abril, foi bem mais longa do que precisava ser. Isso porque eu voei até a Polônia e fiz uma conexão em Varsóvia de duas horas antes de seguir viagem. Saí de casa pouco antes das 4h da manhã, pra chegar no aeroporto às 5h e voar às 7h. Só aterrissei em Bucareste às duas da tarde. Morta com farofa, mas feliz por ter chegado, peguei minha mala e fui até o lugar onde se compra o ticket de transporte.
É interessante como, quando a gente tá imerso em um novo idioma, tem que fazer um esforço enorme pra reconfigurar o pensamento a cada vez que a língua muda. Respirei fundo e caminhei até o guichê lembrando a mim mesma que deveria falar em inglês. Comecei bem:
- Hello...
Li em voz alta, em romeno, o nome do cartão que queria comprar:
- Card pentru autobus...
Daí fui tentar concluir a frase com educação. E a diarreia mental aconteceu.
[Meu Deus! Como é que fala "por favor" em inglês? Como é? Como é? Como éééé?]
Não deu. Saiu em alemão...
- Bitte!
O restante da conversa foi simplesmente assustador. Principalmente porque, quando eu acho que alguém fala pouco ou não fala a língua do Tio Sam, numa tentativa inconsciente de facilitar as coisas eu solto um inglês mais que simples: macarrônico. Do tipo "I... ticket... bus...". Não me julguem, pessoal. Juro que sou legal. E lá fui eu explicar pra tiazinha o que eu queria no meu inglês versão índio. Depois de um sufoco danado e das palavras em alemão pulando à minha frente antes que eu me desse conta, finalmente consegui comprar o que precisava. Sabe o que deu mais raiva? Que logo depois que mim veio um broto americano jorrando o inglês que gente normal fala e a tia entendeu tu-do! Que vontade de me esconder, ou de voltar lá e falar qualquer coisa pra melhorar minha imagem. Heheeeee. Mas não fui. Claro que não.
Uma hora depois de embarcar num busão lotado, tendo à minha frente uma senhorinha toda conversadeira que esbanjava sorriso com seu único dente, cheguei à casa dos meus amigos. Muito legal como, durante o caminho, eu reconheci alguns dos lugares pelos quais tinha passado dois anos atrás, durante meu mochilão. Mas é claro que o melhor mesmo foi reencontrar a família Carvalho depois desse tempo todo!
Na verdade, a ida para Bucareste foi muito mais para aproveitar o tempo com eles do que pra passear. Foi demais estarmos juntos e colocarmos em dia as novidades de 24 meses! Também tive a oportunidade de conhecer alguns dos amigos deles por lá. Fizemos uma vigília na sexta-feira, dia em que cheguei, das 22h às 5h da manhã do dia seguinte. Pra mim, foram mais de 26 horas acordada. Mas por desse tipo de cansaço - esse de estar com gente querida, ainda mais buscando ao Senhor juntos - eu não tenho mesmo do que reclamar! Maravilhoso!
No sábado fomos ao parque Titan - gigantesco e lindíssimo! Especialmente com o sol brilhando e o céu azul. Conforme fomos caminhando, o som de música clássica foi chegando mais perto. Acabamos descobrindo que Orquestra de Bucareste estava fazendo um concerto de Páscoa ali - gratuito e ao ar livre. Muito, muito especial!
Domingo pela manhã fomos à igreja - quer dizer, a trouxemos pra gente. A Agrafa é uma igreja que se reúne em casa, e é linda a intimidade, a nobre simplicidade de compartilhar a fé e a Palavra num ambiente tão família. Interessante pensar como o Reino de Deus acontece o tempo todo, no mundo todo, nas arenas lotadas e nos lares. Por que é que a gente complica tanto as coisas às vezes, hein?
Depois de uma tarde preguiçosa, saímos à noite para jantar na parte antiga de Bucareste, que eu ainda não tinha visitado. Muito legal contrastar as ruas super largas e as grandes construções com as vias estretinhas da área de Lipscani - que era onde, no século 19, a bombação acontecia. Ainda por cima o Drácula morou por lá! Fotos horrorosas, mas juro que o lugar é massa!
Meus amigos me levaram para visitar a Cărturești Carusel, uma livraria incrível de linda! Eu acho que nem cheguei a dizer pra eles o quanto amo bibliotecas e livrarias, mas eles foram super certeiros na escolha. Me apaixonei! E pra completar jantamos no restaurante de lá mesmo: comida e ambiente maravilhosos. Super recomendo!
Chegamos em casa já bem tarde e cansados, mas quando o assunto virou música a gente jogou tudo pra cima e num piscar de olhos já passava da uma da manhã.
O tempo voou por lá. A segunda-feira amanheceu chuvosa, dando a deixa pra ficar em casa e aproveitar mais do que realmente importava nessa viagem: a companhia dos meus amigos. E como se não bastasse, teve tapioca pro café da manhã. Gente. Por favor, né? Minha alma nordestina cantou a melodia dos anjos degustando esse manjar. Yum!
A família inteira foi me levar no aeroporto. Com o coração apertado, fui me perguntando quanto tempo levaria pra gente se ver de novo - e pedindo a Deus que não fosse tanto quanto dessa última vez. Dois anos é muita coisa quando a gente tem saudade. Nos despedimos cheios de esperança de nos vermos em breve, e eu realmente acho que agora, morando na Europa, esses reencontros vão ficar mais frequentes!
Quando cheguei no aeroporto e me vi sozinha, voltei a dizer pra mim mesma que era inglês que eu precisava falar. In. Glês. Despachei as malas sem problemas. Passei pelo detector de metais e scanner da mala de mão sem problemas. Daí cheguei no controle de passaporte. Xi... Na noite anterior, no restaurante, eu tinha perguntado mil vezes como se dizia "obrigada" em romeno, pra responder à garçonete que nos atendeu com tanta simpatia. Quando o policial me entregou meu passaporte de volta, espremi Tico, Teco e toda a sua turma (não devem ser muitos...) pra ver se eles se recordavam da palavra. Os milésimos foram passando e eu sabia que não ia dar em nada. Eles não iam lembrar!
[O que é que eu falo? O que é que eu falo? O que é que eu falo?]
Agora raciocine comigo: a língua internacional é inglês. Eu falo. Também falo espanhol. E português. Nas profundezas da minha mente ainda resta um pouco do francês que aprendi pela metade. E agora tem o alemão na minha vida. Mas o que foi que eu falei pro policial? Hein?
- Grazie!
Fiquei vermelha na hora e não aguentei nem olhar pra cara dele. Saí da frente na velocidade da luz e caí numa gargalhada interna. Por que no muuuuundo eu fui agradecer em italiano? Logo italiano! Se eu falo alguma coisa é graças às novelas da Globo e olhe lá. Não tem explicação, gente. Minha cabeça é um emaranhado que nem eu entendo. E aliás, a palavra que eu estava procurando era "multumesc". Oh, well... fica pra próxima.
Uma coisa meio doida dessa viagem é que ir pra Romênia significou pular a Páscoa. Naquele fim de semana, ela estava sendo comemorada na Alemanha mas não lá, já que o calendário da igreja Ortodoxa é diferente. Como alguém que tem Jesus como melhor amigo, agradecer pela sua morte e comemorar sua ressurreição pra me salvar é muito especial. Mas mais importante do que celebrar na data é celebrar a data. E isso eu fiz no meu coração, e vai aqui publicamente também:
Senhor, obrigada por deixar seu trono pra viver como eu e pregar os meus erros e minhas fraquezas na cruz pra que eu tivesse um relacionamento contigo e uma casa no céu pela eternidade <3
Bom, gente... é isso! Volto amanhã pra falar da passagem (ou não) pela Polônia.
Ah! Pra quem quiser ler a história da primeira visita à Bucareste, é só clicar aqui.
Vou me despedindo em com português pra evitar conflitos lingúisticos:
TCHAU! ;)