Mais um dia aqui no reinado de Merkel! Hoje fez um sol lindo em Munique - mas ninguém se engane: continua um frio de lascar. Entramos de novo na nossa máquina do tempo pra eu falar ainda de 2014 :)
É engraçado como, quando você não conhece uma língua, as pessoas podem estar falando o que quiserem a seu respeito e você continua com aquela cara de paisagem. No domingo (28), quando estávamos ainda a caminho da casa da tia de Sarah, onde comemoramos o Natal, estava eu toda sorridente para a janela do carro, amando o frio e a neve. Mal sabia eu o que Sarah, seu irmão e seu pai estavam ~macomunando~ a meu respeito. De repente, a oferta: se eu queria, no dia seguinte, ir assistir um jogo das quartas de final da Spengler Cup, um campeonato de hockey mega tradicional que acontece apenas desde 1923. Depois de pensar por um oitavo de milésimo de segundo, é claro que eu disse siiiiiiim! Na verdade, eu queria dar um grito, mas preferi evitar o choque cultural.
É claro que eu não entendo nada de hockey. Mas que oportunidade! Depois de confessar que na minha cabeça brasileira o esporte se resume a pessoas com roupas enormes se espancando sobre o gelo sem muita punição, eu fui perdoada e Sarah se propôs a explicar como tudo funciona (e gente! faz sentido!). O caminho de carro até Davos levou cerca de 2 horas. Fomos com o irmão de Sarah, Jeremias, e o amigo dele, Fabian. Chegando lá, paramos na casa de Fabian para uma preparação bem tradicional. Me serviram um pouquitinho de café - eu até pensei, "nossa, alguém esqueceu de avisar que eu sou brasileira" - e depois tínhamos que beber até deixar só o açúcar do fundo. Em seguida, a gente coloca uma bebida bem forte na xícara e... fuego! Com as chamas na colher, a gente vai caramelizando o açúcar até os grãos desaparecerem. Eu não sei como se chama, quem inventou, onde e por quê, só sei que fica uma deléeeecia e esquenta qualquer pessoa dos dedos dos pés até o couro cabeludo n-a-h-o-r-a. Muito propício pro frio que faz lá na montanha.
De lá fomos pra... hm... arena? estádio? como se chama o lugar onde as pessoas jogam hóckey mesmo?... enfim. Mas não sem antes pararmos pra beber alguma coisa quente de novo e, OBVIAMENTE, tirarmos foto com uma pessoa vestida de vaca, porque você pode até perder um campeonato super tradicional cujo ticket deve ter custado um rim inteirinho, MAS VOCÊ NÃO PODE DEIXAR PASSAR A CHANCE DE TIRAR UMA FOTO COM ALGUÉM VESTIDO DE VACA NA SUÍÇA. Ô, alegriiiiia!
Terminado o jogo (com vitória da Rússia! aêeeee!), eu e Sarah andamos até a estação pra pegarmos o trem de volta pra casa. Lá na Suíça, o controle dos tickets é feito dentro do próprio trem. E eu tenho certeza que o fiscal daquele em que nós estávamos se arrepende até hoje de ter entrado no nosso vagão... Quando ele parou exatamente na frente de Sarah pra verificar as passagens, do final do corredor vêm duas pessoas correndo: um adulto com a mão na boca de um menino que estava na frente dele. Não podia ser coisa boa. Imagina isso:
só que de vômito. BLEH! Gente, sem palavras. Ninguém estava acreditando. A sorte é que o menino parou ao lado de Sarah. Se fosse um pouquinho atrás, ela estaria até hora tentando se livrar dos efeitos daquele banho. Quem se lascou mesmo foi a pobre coitada que estava na frente dela. E o fiscal?... o que dizer?... suas roupas vermelhas foram instantaneamente banhadas pelo repulsivo fluido produzido no interior daquela criança - e ele impressionantemente não perdeu o humor! Eu jogaria a criança pela janela se fosse comigo. Fiquei verde, azul, amarela e todas as demais cores do arco-íris. Viajamos mais umas 2 horas inalando aquela essência agradabilíssima. E rimos horrores, é claro!
No dia seguinte, voltamos a Konstanz porque tanto eu quanto Sarah precisávamos comprar algumas coisas, e a Alemanha é infinitamente mais barata do que a Suíça. De lá, fomos cumprir um projeto que estava traçado desde setembro: ir a um restaurante chinês do tipo all-you-can-eat (não é bem um rodízio, mas você paga um valor fixo e come até chamar os paramédicos - o que nosso caso foi quase bem verídico, saímos de lá estourando!). Quando estávamos perto de sair, paguei o mico não só do ano, mas de todas as eras que virão. Eu estava "ensinando" a Sarah como tomar chá como uma dama, quando ela desatou a rir. Com a bebida fervendo na boca, eu também comecei a gargalhar - mas pelo nariz! Sério, não consigo nem tentar descrever os barulhos que minhas cavidades nasais fizeram!
Ao som da minha música otorrinológica, Sarah se acabava. E quando eu fui tentar engolir o chá pra conseguir gargalhar como uma dama, engasguei e vi a morte por alguns segundos. Tenho certeza que meu olho saltou das casinhas e voltou! Tenho certeza que fiquei mais vermelha que caranguejo na panela! Continuei emitindo sons indescritíveis, mas dessa vez acrescentando tosse. Quando finalmente conseguimos parar, olhei ao meu redor e vi muitos pares de olhos na minha direção. Ouvimos a música ambiente calminha e as conversas super silenciosas nas outras mesas... e gargalhamos ainda mais! Isso bem que poderia ter acontecido na beira da praia, comendo frango com farofa... mas não, pra ser inesquecível tem que ser na Alemanha, contrastando com a discrição de todo mundo que teve o infortúnio de compartilhar aquele lugar com nós duas. Ainda morro de rir lembrando do que foi aquilo!
No trem, já recuperada, comecei a sentir uma sede horrorosa. Dali não tinha como parar em lugar nenhum. E sério, eu tava começando a ficar desesperada (aguento fome bem, mas não suporto sentir sede!). E CLARO que exatamente nesse dia eu tinha esquecido em casa minha garrafinha rosa de água, minha fiel escudeira para todos os lugares. Só tinha uma alternativa... Em Konstanz, tínhamos comprado o Glüwein (aquela coisa maravilhosa da qual falei no post de ontem) mais barato do mundo! 1 litro por 99 centavos! Eu imagino o que os outros no trem devem ter achado ao me verem agarrada com uma garrafa de vinho como se fosse água. Mas gente, que alívio! Obrigada, Sarah, pelo registro desse momento ímpar minha vida!
Dia 31 chegou e o combinado era passarmos a virada do ano na casa de uns amigos de Sarah. Comemos Raclette, uma comida bem típica de lá, e jogamos Dog, um jogo de tabuleiro também suíço. Basicamente, entre comidas, bebidas, pessoas, móveis, jogos, objetivos animado e inanimados, eu era a única matéria não proveniente da Suíça. E sendo esse meu primeiro Ano Novo longe do Brasil, é claro que eu sabia que seria diferente. Mas sério, eu jamais poderia prever o quão DIFERENTE esse "diferente" significava. Como a reunião começou às 18h30, quando passou das 23h já estava todo mundo baqueado de comer tanto, e os assuntos das conversas foram minguando. Às 15 pra meia noite, estávamos ao redor da mesa literamente só esperando o novo ano chegar. B e m s i l e n c i o s a m e n t e. Quando o relógio avisou que 2015 havia chegado, brindamos, dissemos feliz ano novo uns pros outros e boom - 20 minutos depois já estávamos a caminho de casa. Até os poucos fogos de artifício que pintaram o céu pareciam bem mais discretos do que a nossa gritaria brasileira - que, honestamente, dessa vez fez falta! Comemorar a virada do ano no modelo suíço foi, no mínimo, uma experiência antropológicas interessante. Mais uma vez, não tenho fotos.
Quase resolvi esconder que no dia 1˚ a programação foi comida de novo. Sério, ta ficando vergonhoso isso. Mas infelizmente sim. Fomos na casa dos pais de Sarah comer fondue - e putz!, fondue de queijo suíção não é uma coisa que você possa ignorar. Acho que nunca comi tanto queijo quanto nesses dias em que estive lá. Sem arrependimento.
No dia 2, o mundo quase perdeu duas grandes mulheres: Ana Luiza Augusto (cof cof) e Sarah Kammermann. E eu não estou exagerando. Estou sim. Gente, pensem numa SAGA. Uma saga com perigos, drama, gelo, neve, chuva e xixi nas calças. Tudo isso foi o que a gente viveu visitando duas montanhas no segundo dia do ano. Mas essa é uma história pra amanhã :)
Até lá, gente!