13 de maio de 2015

tabula rasa

Tem coisas que a gente aprende e não tem quem nos faça esquecer. Na minha vida escolar, eu nunca tive rotinas muito disciplinadas de estudo. As boas notas (pelo menos até entrar no IFRN... hehe) eram resultado de pouco esforço, na verdade. Porque o que eu sabia ninguém tirava de mim. Simplesmente prestando atenção eu conseguia reter o conteúdo que precisaria para as provas. E se o conteúdo me interessasse, então ele estava retido pro resto da vida.

Eu vivi uma paixão intensa por História e Geografia principalmente na sétima e oitava séries. A professora Vanubia não só dava aulas brilhantes, mas também me cercava de incentivo pra não deixar esse fogo apagar – quer fosse nos recadinhos que ela escrevia nas minhas provas, quer ajudando a realizar as fantasias que eu criava, como a peça que fizemos da lenda do Minotauro em uma das feiras de ciências da Escola e Curso Crescer.

Lembro que foi um esforço aceitar que a época de estudar as Civilizações Clássicas tinha passado. Logo chegou a Era Medieval... E logo chegou o Iluminismo. E é bem verdade que, hoje em dia, eu não conseguiria atribuir datas e nomes aos bois dessa era. Mas se você me perguntar quem formulou a teoria da Tabula Rasa (do latim, tábua raspada), eu vou encher os pulmões e dizer com segurança que foi o inglês John Locke, no século XVII – mesmo já fazendo mais de 10 anos dessa aula, e mesmo nunca mais tendo precisado recorrer a esse conteúdo no ambiente escolar. Eu aprendi pra sempre.

Segundo Locke (e nas minhas próprias palavras), todos nós nascemos como folhas em branco – tabulas rasas, que vão sendo preenchidas e esculpidas ao longo da vida. Adoro pensar que, enquanto experimento, leio, aprendo, questiono, penso, teorizo, observo, duvido, acerto e erro, estou preenchendo a minha tabula. Na minha opinião, quando a gente encara a vida assim, fica mais fácil valorizar o que vem ao nosso encontro. Afinal, seria terrível chegar ao final dos meus dias e constatar que a minha tabula consiste em retas e pontos simples e pouco coloridos, enquanto ela poderia ser um emaranhado de conexões, desenhos, estampas das mais diversas cores.

Penso sempre na minha tabula, mesmo quando a estou preenchendo por métodos menos convencionais – com uma grande mochila nas costas viajando sozinha pelo leste europeu, por exemplo. Não suporto admitir que, em muitas ocasiões, eu poderia ter completado espaços de forma muito mais profunda ou em áreas diferentes. Mas o que eu não fiz, eu não fiz. E acho bem normal que, em alguns momentos da nossa vida, o nosso ritmo de trabalho com a tabula varie.

Tudo isso pra dizer que, quando minha ficha finalmente caiu e me deixou perceber que eu estou em um país que é referência absoluta em Educação, os cantinhos vazios da minha folha em branco começaram a gritar por preenchimento. Eu queria ter uma experiência no ambiente universitário alemão. E nada melhor do que a motivação pra fazer a gente agir e descobrir os caminhos, né? Em um mesmo dia, enviei e-mails pra todas as universidades de Munique, perguntando se ofereciam vagas para alunos visitantes.

O que eu queria aprender? Qualquer coisa. E quando a Universidade Técnica de Munique, umas das melhores do país, me respondeu com uma lista das disciplinas que eu poderia cursar, escaneei mentalmente cada uma das matérias disponíveis pra tentar entender qual faria mais sentido.

De Medicina a Educação Física, tinha tudo – menos Comunicação, que é a minha área. Juntando As e Bs, Xs e Ys, preferências pessoais e horários, e principalmente levando em conta o que este país tem de mais forte, tomei minha decisão: cursar as disciplinas de Konstenrechnung (Contabilidade) e Volkswirtschaft (Economia). Fui hoje pela segunda vez e já não vejo a hora de chegar a semana que vem. Quem diria?... Logo eu, que nos últimos meses de faculdade estava quase que literalmente me arrastando pras aulas, voltei correndo de braços abertos pro ambiente universitário – ainda que numa área completamente diferente da minha formação! Eu mal acredito no quanto estou encantada com essa oportunidade e com o que tenho aprendido. Mas os detalhes dessa experiência eu só vou contar no próximo post. De brotos acadêmicos a lições de macroeconomia, tenho muito pra falar!

Hoje à tarde precisei de um tempinho pra pensar e agradecer a Deus por tantas oportunidades legais, como essa. De verdade, gosto muito da história que eu e Ele estamos escrevendo. Saí de bicicleta e, no mesmo tipo de motivação que me faz entrar num auditório lotado pra aprender algo que não é minha obrigação saber, tomei um caminho pelo qual nunca tinha passado antes. Enquanto deixava o queixo cair com os prédios lindos e o verde fantástico ao meu redor, fui lembrada mais uma vez do quanto é valioso a gente se abrir pro que é positivamente novo. Tomei banho de chuva e deixei mais essa marquinha estampar a minha tabula - que não está mais tão rasa...


O que você vai colocar na sua folha em branco hoje?

11 de maio de 2015

nicht nur überleben

[I honestly hope you'll look beyond the errors to the intentions. I'm still learning... and I love it!]
[Eu espero sinceramente que você olhe para as intenções além dos erros. Eu ainda tô aprendendo... e to amando!] 


Wow.

Ich muss sagen, ich fühle mich ein bisschen nervös mit diesem ersten Blogeintrag auf Deutsch. Letzte Woche haben wir über Blogs in meinem Deutschunterricht gesprochen. Als entdeckte die Lehrerin, dass ich eine Blogger bin, gab sie mich die Aufgabe, auf Deutsch zu schreiben. Natürlich das kommt schon Morgen dran... und nur heute Abend habe ich endlich versucht, etwas zu schreiben. Das bin ich. Egal in welcher Sprache, funktioniere ich viel besser unter Druck.

Druck ist eigentlich zurzeit ein wichtiges Wort für mich. Wie kann man in einem anderen Land leben und arbeiten, ohne Zeit für eine richtige kulturelle und sprachliche Adaptation, und trotzdem glücklich und zufrieden sein? Von meinem ersten Tag in Deutschland an, muss ich nicht nur in einer anderen Sprache kommunizieren, sondern auch diese sehr unterschiedliche Kultur erfahren, verstehen, akzeptieren... oder werde ich am besten <<überleben>> sagen?

Am Anfang war das wirklich das Gefühl, das ich jeden Tag hatte. <<Ich muss es überlegen>>, sagte ich mir. Bestimmt nehme ich auch an, dass ich nicht der einzige Mensch war, der genauso dachte. Die Schwierigkeit dieser Adaptation ist etwas das verstehen nur die Leute, die an dieser Stelle waren. Aber wenn sieht man Druck - neue Kultur, wenig Zeit, keine Freunde, neues Zuhause, wenig Geld, keine andere Möglichkeit - als die Chance, etwas besonderes zu erfahren, dann ändern sich alles.

Ich habe gelernt, dass wenn ich einfach überleben will, wenig ist genug. Es ist genug, ein bisschen zu sprechen. Es ist genug, nur Freunde aus deinem Land zu haben. Es ist genug, immer noch sich wie ein Tourist zu fühlen. Es ist genug. Es ist egal. Aber nicht für mich. Ich schätze das Gedacht, dass als ich in Deutschland gekommen bin, ging Deutschland auch in mir drin. Also will ich nicht nur überlegen, sondern erfahren, lernen, genießen, mich verlieben lassen. 

Ich werde noch vielmal Fehler machen. Ich werde noch vielmal Keller statt Kellner sagen. Kirche statt Kirsche. Typ statt Tipp. Die, der oder das werden immer ein Problem. Die Kasus? Ach-du-meine-Güte! Ich werde immer noch lange Pause machen und denken: <<meine ich Gesicht, Gericht, Gedicht oder Geschichte?>>. Aber weißt du?, das ängstet mich Einfach nicht.

Als ich Deutsch (und die Deutscher!) lerne, lerne ich auch wie ich mich selbst mehr lieben und respektieren kann. Die Herausforderungen machen mir keine Angst. So stark wie jetzt war ich noch nie.

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Wow.

I should confess, I feel a little nervous with this first blog entry in German. Last week we talked about blogs in my German classes. As the teacher found out I am a blogger, she assigned me to write a blog in this new language. Of course that's already due tomorrow... and only tonight I have finally tried to write something. That's me. No matter in what language, I work better under pressure.

Pressure is actually a very important word for me right now. How can a person live and work in another country, without time to properly adapt in terms on language and culture, and even then be happy and satisfied? Since my very first day in Germany, I not only have to communicate in another language, but also to experience, understand, accept... or should I say "survive"? this completely different culture.

At the beginning that really was the feeling I got every day. "I have to survive it", I'd tell myself. I can totally assure that I am not alone in such thinking. The difficulty this adaptation brings about is only understandable by people who have lived it through. But, when we see Pressure - new culture, few time, no friends, new home, little money, no other possibility - as the chance to experience something special, then everything changes.

I have learned that, if I only want to survive, the "little bits" are enough. Speak a little bit is enough. Only having friends from my own country is enough. Always feeling like a tourist is enough. And it's so "enough" that we become indifferent.  Not for me, though. I treasure the thought that, when I came to Germany, Germany came inside of me. So I don't want to survive, just like that. I want to experience, learn, enjoy, let myself fall in love. 

Of course I'm still gonna make loads of mistakes. Words that are so similar, like Keller (basement) and Kellner (waiter), Kirche (church) and Kirsche (cherry), Typ (guy) and Tipp (hint) will always drive me crazy. The articles die, der and das will always be a problem. And what about the cases? Ooooh, my goodness! I will always make long pauses and think: "do I wanna say Gesicht (face), Gericht (court/dish), Gedicht (poem) or Geschichte (story)?". But you know what? That doesn't scare me.

As I learn German (and the Germans!), I also learn how to love and respect myself more. The challenges don't make me fear. Actually, I've never been so strong.

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Uau.

Vou logo confessando que estou meio nervosa com esse primeiro post em alemão. Na semana passada nós falamos sobre blogs na minha aula. Quando a professora descobriu que eu sou blogueira (ai, me sinto tão cool), ela me deu a tarefa de escrever em alemão. É claro que já é pra amanhã, e só agora à noite eu finalmente tentei escrever alguma coisa. Eu sou mesmo assim. Em qualquer língua, trabalho bem melhor sob pressão.

Pressão é, na verdade, uma palavra bem importante pra mim agora. Como pode uma pessoa viver e trabalhar em um outro país, sem tempo pra se adaptar corretamente em termos de língua e cultura, e ainda assim se sentir feliz e satisfeita? Desde meu primeiro dia na Alemanha, eu tenho precisado não só me comunicar em uma outra língua, mas também experimentar, entender, aceitar... ou devo dizer "sobreviver"? a essa cultura tão diferente.

No início esse era meu sentimento todos os dias. "Eu preciso sobreviver", eu dizia a mim mesma. E posso garantir que não era a única a pensar assim. A dificuldade dessa adaptação é algo que só quem teve essa experiência pode entender. Mas quando a gente encara a Pressão - nova cultura, pouco tempo, nenhum amigo, nova casa, pouco dinheiro, nenhuma outra possibilidade - como uma chance de experimentar algo especial, tudo muda.

Eu aprendi que, se eu quiser sobreviver, pouco é suficiente. Falar pouco é suficiente. Ter apenas amigos do meu país é suficiente. Sempre me sentir uma turista é suficiente. E é tão suficiente que se torna indiferente. Mas não pra mim. Eu amo pensar que, quando vim pra Alemanha, a Alemanha também veio pra mim. Então eu não quero simplesmente sobreviver. Eu quero ter experiências, aprender, aproveitar, me deixar ficar apaixonada. 

É claro que eu ainda vou errar muito. Palavras que são tão similares, como Keller (porão) e Kellner (garçom), Kirche (igreja) e Kirsche (cereja), Typ (cara/homem) e Tipp (dica) vão sempre dar um nó na minha cabeça. Os artigos die, der e das sempre serão um problema. E os casos? Meeeldels! Eu vou continuar fazendo longas pausas pra pensar: "eu quero dizer Gesicht (rosto), Gericht (côrte/prato), Gedicht (poema) ou Geschichte (história)?". Mas quer saber? Isso não me assusta.

Enquanto eu aprendo alemão (e os alemães!), eu também aprendo a me amar e respeitar mais. Os desafios não me trazem medo. Na verdade, eu nunca me senti tão forte.

18 de abril de 2015

(sem) polônia

Hallo, liebe Leute!

Munique tá brincando de montanha russa esses dias. A temperatura variou de 0 a 24 graus - e é claro que eu acabei dando uma adoecida. Na verdade, já tava até me achando meio poderosa porque quase todo mundo que eu conheço tava pegando alguma coisa e nadinha pra mim. Pronto. Foi só pensar. Ontem parecia que eu tinha levado uma surra. Tinha que pensar mil vezes antes de mudar de posição na cama. Hoje já to beeeem melhor :3

Mas vamos falar de coisa boa, vamos falar de TopTherm, ainda colocando as últimas historinhas em dia. Como falei no post passado, quando fui à Romênia precisei fazer conexão duas vezes em Varsóvia, na Polônia. Não me importo de forma alguma com conexões. Ter que trocar de avião tem um lado positivíssimo: um voo se transforma em dois, ou mais! E eu amo voar! Decolar especialmente... uma das melhores sensações que eu conheço! Mas tem uma matemática importante pra determinar se uma conexão é boa mesmo:
- Dura menos de 1 hora? Pode ser furada. O vôo pode atrasar e você perde o próximo.
- Dura quatro ou mais horas e é durante o dia? Maravilha! Dá pra aproveitar e conhecer a cidade!
- Dura quatro ou mais horas e é à noite? Se prepara pra esquentar cadeira de aeroporto.
- Dura um dia inteiro e a companhia aérea paga o hotel praquela noite? Sonho!

A pior conexão, na minha opinião, é a que dura entre 1 e 3 horas e é durante o dia. Porque, teoricamente, dá pra você dar uma escapulida na cidade. Porém, na maioria das vezes, os aeroportos são longe do centro, e você não quer arriscar perder sua conexão. Então fica aquele vácuo de tempo em que você fica no aeroporto se mordendo por não poder escapar.



Minha primeira conexão foi de quase três horas. E como era dentro da área Schengen (o espaço de livre circulação no território europeu), eu tava disposta a arriscar. Ainda em Munique, pesquisei como chegaria até o centro. Iria caminhar alguns blocos, tomar um sorvete, tirar um par de fotos e estaria satisfeita. Tudo combinado. Só faltou avisar a Varsóvia. Conforme o aivão foi pousando, vi que um céu mega cinzento cobria a cidade. Tava chovendo e fazendo um frio de lascar. Ótimo. Depois de tantos planos, ia ficar enclausurada (ilustração ao lado).


Me conformei com meu destino e saí vagando pelo aeroporto procurando por alguma coisa legal e admirando os brotos. E a frustração de não poder ver a cidade foi amenizada quando descobri que ali tinha não só wi-fi gratuito e ilimitado mas também uma sala de repouso com poltroninhas e tudo. Whoaaa! Geralmente, essas regalias a gente só encontra em sala VIP - "a gente"! kkkkk... como se eu já tivesse entrado em uma - mas no aeroporto de Varsóvia todo mundo tem direito a colocar as pernas pra cima. Cochilei e inclusive babei um pouquinho e saí de lá perto da hora de embarcar de novo.


E aqui eu preciso fazer uma pausa pra comentar sobre a LOT, a companhia aérea polonesa. Nunca tinha voado com eles, mas tive um experiência ótima. Sim, os aviões são minúsculos. Não, eles não servem comidinha - só água e uma barrinha de chocolate. Massss os quatro voos que peguei com eles foram não só pontuais na saída, como estavam adiantados na chegada. Isso ajuda a vida de qualquer viajante, mas não é a melhor parte. Gente, eles tocam ABBA antes de decolar e depois que pousam! Melhor ainda: é a trilha sonora de Mamma Miaaa! Sério, amei voar me sentindo a dancing queen, young and sweet, only seventeeeeeen! Pára tudo, vamos assistir/escutar esse clássico juntos: 

You can daaaance, you can jiiiiive
Having the time of your life
Uh - uh - uh see that giiiiirl
Watch that scene
Diggin' the dancing queeeeeeen

Aff! Muito bom! E assim foi na volta também. Quando o avião chegou de Bucareste em Varsóvia e ABBA começou a tocar, decidi que na minha uma hora de conexão eu iria sair nem que fosse pra dar uma volta no quarteirão. E assim foi, praticamente. Quando finalmente saí do aeroporto, vi que tinha pouco mais de 20 minutos lá fora. Aproveitei o tempo intensamente, visitando o quintal de uma estação de polícia, olhando passarinhos, me alegrando com uma placa que consegui ler, dando voltas no quarteirão. Eis aí tudo que vi da Polônia, em uma foto só:
Quando voltei pro aeroporto, tinha que passar de novo pelo scanner da bagagem de mão. Em quatro procedimentos de embarque nessa viagem, essa foi a quarta vez que o alarme apitou pra mim. Eu realmente não estava com nada de metal ou proibido, mas devia ser alguma coisa na roupa. E essa última checagem não produziu uma história muito agradável :(

Ao passar pelo detector de metal, quando o alarme disparou, um segurança polonês se colocou à minha frente bem indelicadamente, a um palmo do meu rosto, dizendo que eu tinha que esperar. Ok. Fui dar um passo pro lado pra aumentar a distância entre a gente, e ele foi junto. Hm... desconfortável. Ele perguntou se eu queria ser revistada por uma mulher, e eu disse que sim - óbvio! Daí ele começou a argumentar sobre o quanto poderia demorar e que seria bem melhor se eu deixasse que ele fizesse isso. Disse que não mais uma vez e até dei uma virada no anel que sempre uso na mão esquerda - vai que ele achava que eu era casada e desistia?

A tal "demora" até que a segurança viesse não passou de alguns segundos. Enquanto eu era revistada por ela, ele permaneceu logo atrás, e ria e comentava coisas com um outro segurança. Claro que não entendi o que eles estavam falando, mas pelo tom não me pareceu legal. Quando olhei à minha frente, vi por um vidro espelhado que minha sensação estava correta. Eles estavam gesticulando e olhando pra mim de uma forma bem constrangedora.

Assédio é a única coisa que embrulha meu estômago quando penso em viajar sozinha, ainda mais quando é de alguém em posição de autoridade. Eu me sinto impotente e tudo o que quero nessas horas é ter alguém ao seu lado. De preferência, papai. A pior situação até agora foi quando peguei um trem maluco da Romênia pra Bulgária, no meu mochilão. É meio injusto que homens mochileiros possam sair por aí sozinhos sem darem um segundo de atenção a pensamentos como esse, enquanto mulheres que viajam sem companhia têm que estar constantemente vigiando seu entorno e torcendo pra não cruzarem o caminho de gente mal-intencionada.

OH, WELL. Passou!

Embarquei e pousei embalada por ABBA, mega cansada mas ainda tendo que enfrentar uma hora e um pouquinho pra chegar até o apartamento em Munique. Devorei pão e Nutella quando cheguei, e dormi morta com farofa até bem tarde no dia seguinte.

Já não vejo a hora de voar de novo...
E Polônia, segura aí que um dia eu chego de verdade!

Por hoje é só!
Beijo, gente. Tenham um seeehr schön fim de semana!

15 de abril de 2015

bucareste 2.0

Mas olha como eu tô exemplar! Passando aqui dois dias seguidos :D Tudo bem, gente?

Como eu disse ontem, ainda tem bastante história pra colocar em dia. Então vamos lá!

A viagem até a Romênia, no primeiro fim de semana de abril, foi bem mais longa do que precisava ser. Isso porque eu voei até a Polônia e fiz uma conexão em Varsóvia de duas horas antes de seguir viagem. Saí de casa pouco antes das 4h da manhã, pra chegar no aeroporto às 5h e voar às 7h. Só aterrissei em Bucareste às duas da tarde. Morta com farofa, mas feliz por ter chegado, peguei minha mala e fui até o lugar onde se compra o ticket de transporte.

É interessante como, quando a gente tá imerso em um novo idioma, tem que fazer um esforço enorme pra reconfigurar o pensamento a cada vez que a língua muda. Respirei fundo e caminhei até o guichê lembrando a mim mesma que deveria falar em inglês. Comecei bem:
- Hello...

Li em voz alta, em romeno, o nome do cartão que queria comprar:
- Card pentru autobus...

Daí fui tentar concluir a frase com educação. E a diarreia mental aconteceu.
[Meu Deus! Como é que fala "por favor" em inglês? Como é? Como é? Como éééé?]

Não deu. Saiu em alemão...
- Bitte!

O restante da conversa foi simplesmente assustador. Principalmente porque, quando eu acho que alguém fala pouco ou não fala a língua do Tio Sam, numa tentativa inconsciente de facilitar as coisas eu solto um inglês mais que simples: macarrônico. Do tipo "I... ticket... bus...". Não me julguem, pessoal. Juro que sou legal. E lá fui eu explicar pra tiazinha o que eu queria no meu inglês versão índio. Depois de um sufoco danado e das palavras em alemão pulando à minha frente antes que eu me desse conta, finalmente consegui comprar o que precisava. Sabe o que deu mais raiva? Que logo depois que mim veio um broto americano jorrando o inglês que gente normal fala e a tia entendeu tu-do! Que vontade de me esconder, ou de voltar lá e falar qualquer coisa pra melhorar minha imagem. Heheeeee. Mas não fui. Claro que não.

Uma hora depois de embarcar num busão lotado, tendo à minha frente uma senhorinha toda conversadeira que esbanjava sorriso com seu único dente, cheguei à casa dos meus amigos. Muito legal como, durante o caminho, eu reconheci alguns dos lugares pelos quais tinha passado dois anos atrás, durante meu mochilão. Mas é claro que o melhor mesmo foi reencontrar a família Carvalho depois desse tempo todo!

Na verdade, a ida para Bucareste foi muito mais para aproveitar o tempo com eles do que pra passear. Foi demais estarmos juntos e colocarmos em dia as novidades de 24 meses! Também tive a oportunidade de conhecer alguns dos amigos deles por lá. Fizemos uma vigília na sexta-feira, dia em que cheguei, das 22h às 5h da manhã do dia seguinte. Pra mim, foram mais de 26 horas acordada. Mas por desse tipo de cansaço - esse de estar com gente querida, ainda mais buscando ao Senhor juntos - eu não tenho mesmo do que reclamar! Maravilhoso!

No sábado fomos ao parque Titan - gigantesco e lindíssimo! Especialmente com o sol brilhando e o céu azul. Conforme fomos caminhando, o som de música clássica foi chegando mais perto. Acabamos descobrindo que Orquestra de Bucareste estava fazendo um concerto de Páscoa ali - gratuito e ao ar livre. Muito, muito especial!

Domingo pela manhã fomos à igreja - quer dizer, a trouxemos pra gente. A Agrafa é uma igreja que se reúne em casa, e é linda a intimidade, a nobre simplicidade de compartilhar a fé e a Palavra num ambiente tão família. Interessante pensar como o Reino de Deus acontece o tempo todo, no mundo todo, nas arenas lotadas e nos lares. Por que é que a gente complica tanto as coisas às vezes, hein?
Depois de uma tarde preguiçosa, saímos à noite para jantar na parte antiga de Bucareste, que eu ainda não tinha visitado. Muito legal contrastar as ruas super largas e as grandes construções com as vias estretinhas da área de Lipscani - que era onde, no século 19, a bombação acontecia. Ainda por cima o Drácula morou por lá! Fotos horrorosas, mas juro que o lugar é massa!
Meus amigos me levaram para visitar a Cărturești Carusel, uma livraria incrível de linda! Eu acho que nem cheguei a dizer pra eles o quanto amo bibliotecas e livrarias, mas eles foram super certeiros na escolha. Me apaixonei! E pra completar jantamos no restaurante de lá mesmo: comida e ambiente maravilhosos. Super recomendo!
Chegamos em casa já bem tarde e cansados, mas quando o assunto virou música a gente jogou tudo pra cima e num piscar de olhos já passava da uma da manhã.

O tempo voou por lá. A segunda-feira amanheceu chuvosa, dando a deixa pra ficar em casa e aproveitar mais do que realmente importava nessa viagem: a companhia dos meus amigos. E como se não bastasse, teve tapioca pro café da manhã. Gente. Por favor, né? Minha alma nordestina cantou a melodia dos anjos degustando esse manjar. Yum!



A família inteira foi me levar no aeroporto. Com o coração apertado, fui me perguntando quanto tempo levaria pra gente se ver de novo - e pedindo a Deus que não fosse tanto quanto dessa última vez. Dois anos é muita coisa quando a gente tem saudade. Nos despedimos cheios de esperança de nos vermos em breve, e eu realmente acho que agora, morando na Europa, esses reencontros vão ficar mais frequentes!

Quando cheguei no aeroporto e me vi sozinha, voltei a dizer pra mim mesma que era inglês que eu precisava falar. In. Glês. Despachei as malas sem problemas. Passei pelo detector de metais e scanner da mala de mão sem problemas. Daí cheguei no controle de passaporte. Xi... Na noite anterior, no restaurante, eu tinha perguntado mil vezes como se dizia "obrigada" em romeno, pra responder à garçonete que nos atendeu com tanta simpatia. Quando o policial me entregou meu passaporte de volta, espremi Tico, Teco e toda a sua turma (não devem ser muitos...) pra ver se eles se recordavam da palavra. Os milésimos foram passando e eu sabia que não ia dar em nada. Eles não iam lembrar!
[O que é que eu falo? O que é que eu falo? O que é que eu falo?]

Agora raciocine comigo: a língua internacional é inglês. Eu falo. Também falo espanhol. E português. Nas profundezas da minha mente ainda resta um pouco do francês que aprendi pela metade. E agora tem o alemão na minha vida. Mas o que foi que eu falei pro policial? Hein?
- Grazie!

Fiquei vermelha na hora e não aguentei nem olhar pra cara dele. Saí da frente na velocidade da luz e caí numa gargalhada interna. Por que no muuuuundo eu fui agradecer em italiano? Logo italiano! Se eu falo alguma coisa é graças às novelas da Globo e olhe lá. Não tem explicação, gente. Minha cabeça é um emaranhado que nem eu entendo. E aliás, a palavra que eu estava procurando era "multumesc". Oh, well... fica pra próxima.

Uma coisa meio doida dessa viagem é que ir pra Romênia significou pular a Páscoa. Naquele fim de semana, ela estava sendo comemorada na Alemanha mas não lá, já que o calendário da igreja Ortodoxa é diferente. Como alguém que tem Jesus como melhor amigo, agradecer pela sua morte e comemorar sua ressurreição pra me salvar é muito especial. Mas mais importante do que celebrar na data é celebrar a data. E isso eu fiz no meu coração, e vai aqui publicamente também:

Senhor, obrigada por deixar seu trono pra viver como eu e pregar os meus erros e minhas fraquezas na cruz pra que eu tivesse um relacionamento contigo e uma casa no céu pela eternidade <3

Bom, gente... é isso! Volto amanhã pra falar da passagem (ou não) pela Polônia.
Ah! Pra quem quiser ler a história da primeira visita à Bucareste, é só clicar aqui.
Vou me despedindo em com português pra evitar conflitos lingúisticos:

TCHAU! ;)

14 de abril de 2015

extravagância suíça

Hallo, todo mundo!

Março passou em branco aqui no blog, e eu juro que não percebi quanto tempo fazia que eu não postava alguma coisa. História não faltou, na verdade, mas parece que os dias estão ficando cada vez mais curtos pra fazer todas as coisas que eu quero e preciso fazer. E nessa de não conseguir dar conta de tudo, eu geralmente tenho escolhido ser uma boa mocinha bem à força mesmo e estudar ou ler sempre que aparece um tempo. A história de hoje já tá completando aniversário de um mês - heheeeee! Mas ainda ta valendo, né? Então vamos lá!

Ainda não consegui parar pra colocar em ordem os meus pensamentos sobre o que é trabalhar como Au Pair, mas tem duas coisas que eu posso garantir de cara. A primeira é que, na pirâmide sócio-econômica, eu tenho certeza que essa categoria de trabalhadores vem logo depois das pessoas que estão abaixo da linha da pobreza. Sério, gente! Talvez se eu não estivesse fazendo um curso intensivo - que, por ser todos os dias, é bem mais caro - eu ainda estaria melhor das contas. Mas não sendo esse o caso, posso garantir que o negócio é tenso e as informações sobre minha conta bancária para possíveis doações estão disponíveis sob requerimento.

A segunda verdade é que morar no mesmo lugar onde você trabalha pode ser sufocante às vezes. Essa sensação não depende necessariamente do seu bom relacionamento com as pessoas que moram com você ou do ambiente. Uma das grandes dificuldades de ser Au Pair é determinar quando você está simplesmente em casa e quando está trabalhando. Enfim. O fato é que, em quaisquer circunstâncias, escapar de vez em quando é uma questão de sanidade mental.

Tudo isso pra dizer que, desde que cheguei, apesar de viver contando moeda, eu resolvi que pro bem da minha felicidade eu não abriria mão de fugir da Alemanha todos os meses. Isso significa pensar mil vezes antes de comprar um chocolate na esquina, mas tem valido demais! E a opção que mais alegra o bolso e o coração é ir para a Suíça, minha segunda casa há muitos anos.

A última visita, há exatamente um mês, foi ainda mais especial porque era aniversário de Sarah. Ela fez uma programação mega especial. Aquela coisa bem propaganda da Insinuante, tipo "o aniversário é nosso, mas quem faz a festa é você". Cheguei numa manhã de sábado, e fomos tomar café da manhã juntas pra colocar as notícias em dia e planejar nosso domingo. No mesmo dia, no final da tarde, tive meu momento de tiete torcendo pra ela no seu jogo de futebol. E ela arrasa no FC Wil!

Acordamos cedinho no domingo, e a primeira parada foi uma que vocês já conhecem: a montanha Säntis. Não lembram? Foi aquela em que uma ventania quase nos jogou do pico do alpe ao chão - uma das poucas vezes em que eu achei mesmo que ia #partirferoz pro céu. Falo dela no post Montanha Abaixo. Pois bem. Ganhamos da mãe de Sarah dois vouchers pra irmos de novo a Säntis. Revivi mentalmente o desespero daquela ventania, e morremos de rir com a lembrança. E o tal voucher não era só pra visitar, mas também pra tomar café da manhã lá no topo. Deixe-me acrescentar que era um buffet num restaurante panorâmico. GENTE. Gente... Como explicar? Como se não bastasse o dia estar loucamente lindo e a vista ser maravilhosa, eu comi como se não houvesse amanhã. Novidade...

Eu adoraria dizer que fui uma lady e provei um pouquinho de tal coisa, etc. e tal. Mas a verdade é que minha alma downloadeou o Shrek e eu comi pra fazer honra a qualquer ogro. TRÊS PRATOS. Três pratos! Só de queijo foram oitos tipos diferentes. Essa sim seria uma vez conveniente pra ser levada por uma ventania. De tanto que comi, eu com certeza rolaria em segurança até o pé da montanha.


Conseguimos aproveitar a vista sem medo de morrer. E sério, se você me disser que o céu tem esse visual eu acredito na hora. A Suíça é simplesmente imbatível!


Da montanha, fomos para o último lugar que eu esperaria visitar no inverno: um parque aquático. E o melhor: com vouchers de novo! Com a minha renda de Au Pair eu não pisava lá jamaaaaais! O parque também se chamava Säntis, e ficamos lá umas boas horas jiboiando. Bom demais! A maior parte do parque é coberta, mas tem também piscinas do lado de fora. E pra nossa alegria o céu estava maravilhosamente azul, ainda que o dia não estivesse quente! Não podia tirar foto lá, mas aí vão algumas do site deles. Destaque pra jacuzzi quentinha a céu aberto (que não tá na imagem...) e a piscina de água salgada termal. Me senti bem diva nesse lugar, vou confessar.


Depois que os dedos estavam completamente enrugados de tanto tempo de molho, ficamos uma eternidade no chuveiro quentinho. Na hora de me trocar, tomei um susto ao olhar pro espelho à minha frente. Não foi muito, mas eu estava... bronzeada! Bronzeada do sol de inverno num parque aquático na Suíça. Meio hilário pra uma brasileira vindo de Natal. Não se enganem, entretanto. Continuo embranquecendo a cada dia que passa. Qualquer hora dessa me convidam pra trabalhar como vela humana. A melanina já me abandonou há tempos!


O domingo terminou mega especial, indo ao culto na igreja de Sarah com direito a Mc Donald's no final, e na segunda de manhã já era hora de voltar. Ir à Suíça sem ver meu irmão e sua família (que moram no lado francês do país) também não é a mesma coisa, mas a gente só vai até onde as contas alcançam, né? - literalmente. Deixar a Suíça sempre me faz sentir uma dorzinha no meu coração, mas quem sabe se não vai chegar o dia em que eu não vou ter que me despedir? ;)

Bom, esse foi o primeiro de alguns relatos atrasados. Nos próximos dias volto aqui pra falar das últimas aventuras na Romênia, na Polônia e na Áustria. E aqui em Munique também, claro!

Bis bald!