Servus, todo mundo!
Sim, é com essa palavra (bem feinha, na minha opinião) que se cumprimenta amigos ou pessoas próximas aqui na Baviera - ou, no português incorreto, Bavária - estado alemão cuja capital é Munique. Tenho percebido cada vez mais que os bávaros têm o maior orgulho de serem daqui, e no último fim de semana eu conheci um pouquinho mais da tradição que para eles é um tesouro.
Eu sei que minha última história sobre montanhas por aqui foi meio cabulosa. Na de hoje, o cenário é bem diferente: um hotel/estação de ski a quase 2 mil metros de altitude, localizado nos alpes alemães. Passar um fim de semana lá foi o presente que minha Gast me deu de Natal - e que presente! Valeu a pena esperar! Todos os anos, minha Gast e Kind e outras 5 ou 6 famílias que têm alguma conexão com o Brasil (seja por um dos pais, por terem morado lá ou por afinidade mesmo) se encontram nesse hotel para esquiarem juntos. As crianças das famílias estudaram juntas em um jardim de infância brasileiro e até hoje mantêm contato principalmente através desse encontro. Muito legal, né?
Saímos daqui na sexta-feira, no início da noite. Assim que estávamos fora da cidade e chegamos na Autobahn, a Gast acelerou com tudo e meu estômago foi na boca - demorei a lembrar que, numa rodovia alemã, velocidade máxima é uma coisa quase que inexistente. Aliás, na minha lista de coisas pra fazer por aqui, está o item alugar um carro potente e afundar o acelerador numa Autobahn. Só não fala isso pros meus pais, por favor.
Depois de mais ou menos uma hora na estrada, chegamos ao lugar onde o carro ficaria estacionado. Um pouco antes de sairmos de casa, quando a Gast sugeriu que eu trocasse uma malinha de ombro por uma mochila que ela me emprestaria, achei que fosse um cuidado mais pelo conforto do que por precaução. Eu sabia que, depois do trajeto, a gente teria que andar cerca de uma hora até o hotel. Mas Tico e Teco foram incompetentes o suficiente para não calcularem que, em se tratando de uma montanha, andar - no caso da ida - significa necessariamente subir. Depois dos primeiros cinco minutos, eu já jurei gratidão eterna à Gast pela mochila. Sério, antes de tudo, se tem uma coisa que essa viagem me ensinou, é que eu preciso urgentemente recuperar a forma física - uma forma mais parecida com um ser humano saudável do que com uma circunferência, nesse caso.
Num frio de lascar e lutando a cada passo para não me esborrachar no chão, que era uma mistura de gelo e neve, fui no caminho conversando com Ana Lúcia, uma brasileira do Maranhão que já está aqui há uns 14 anos e é mãe de uma das melhores amigas da minha Kind. Quando finalmente chegamos ao hotel, eu estava com todos os bofes pra fora. Essa foi minha primeira visão:
Até aí, eu não tinha noção de como era o lado de fora. O caminho até o topo era escuro, e as poucas luzes não deixavam a gente ver muita coisa à nossa frente ou dos lados. Só no dia seguinte eu descobriria onde é que eu estava mesmo! O hotel é uma casa bem grande e toda de madeira, com uma decoração bastante rústica e tipicamente bávara. Lindo, lindo!
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A frente do Hotel - que eu só enxerguei mesmo no dia seguinte :P |


Como eu e a Ana não tínhamos roupa de esquiar, nos programamos para darmos uma caminhada no entorno e passarmos um dia bem preguiçoso (que para minha alegria incluiu uma soneca de umas três horas no meio da tarde. Tudo que eu precisava!). Um pouco depois do café da manhã, descemos do Obere Firstalm (parte da montanha onde fica o hotel) para o Untere Firstalm. Nos primeiros dez metros de caminhada, caí de bunda no chão três vezes. E infelizmente, amiguinhos, não estou exagerando. Quando consegui me equilibrar nas duas pernas e, depois de uma descida bem chatinha, chegamos ao Untere Firstalm, tomamos um Glüwein branco e reunimos coragem pra caminhar na neve. E haja neve!
Ficamos mais ou menos 1h45 andando pela montanha, e quando voltamos fizemos um pique-nique-de-quarto com linguiça, queijo, pão e cracker de gergilim. Quase não dá pra ficar mais alemão do que isso! Depois de um banho quentinho, dormi horrores pra compensar a noite anterior. E como gordinho que é gordinho acorda bem na hora das refeições, abri um sorrisão ao constatar que o relógio já marcava 18h30 e em pouco tempo eu poderia jantar. A escolha para a noite foi um Wildgoulash, um prato sensacional de carne de veado (desculpa, Bambi, me desculpa!). Babem, amigos. É ainda melhor do que parece na foto:
Dormi feliz pelo Wildgoulash e já pensando no café da manhã do dia seguinte. Mais aquecida, dessa vez dormi que foi uma beleza! Fui tomar um banho pela catupilhonésima vez e ---pausa pra uma nota cultural. A gente tem a ideia de que no Brasil é tudo um oba-oba danado, mas uma característica das mulheres alemãs me pegou de surpresa aqui: gente, ELAS TIRAM A ROUPA NA MAIOR! No quarto compartilhado onde estávamos, sempre tinha alguma se trocando como se não houvesse ninguém ao redor (claro, nesse caso com calcinha/sutiã pelo menos). E no banheiro, eu notei que era a única a não ignorar a cortina que estava ali para cobrir o box transparente do chuveiro. Okay, né?
Enfim. No dia seguinte, fomos todos presenteados com sol e céu azul - claro que o frio permaneceu o mesmo, mas não dá pra negar o efeito que o sol tem no nosso humor. É muito bom! Pela manhã quem era de ski foi de ski. Fiquei com uma vontade louca de esquiar também, claro, mas sem equipamento nenhum fica meio... impossível. Deixa pro próximo inverno :) Tenho certeza que a neve está com saudade do meu talento incrível para o esporte, conforme demonstrado em 2010 na Suíça:

Depois de muitas fotos e muita conversa, já tava na hora de almoçar pra ir embora. Escolhi, mais uma vez, um prato bem típico da Baviera: Speckknödelsuppe. O Knödel é essa bola gigante aí embaixo, e que vocês também viram no prato do Wildgoulash. Quando eu vi pela primeira vez, o que pensei? Noooooossa, uma almôndega gigante! E gente...
Que surpresa a minha ao descobrir que isso é... pão. Pão velho, ensopado, amassado e recheado até virar uma massa com alto poder de entupibilidade deliciosamente deliciosa! Ainda mais esse da sopa, que tinha bacon dentro. E gente...
Hihihi :D Sério, muito bom mesmo! E pra gastar o que foi ganho, mochila nas costas porque estava na hora de descer a montanha. E como o céu estava azul e o sol brilhando, eu finalmente veria o caminho pelo qual passei na sexta-feira à noite. E nossa. Que coisa mais linda! Acho que não preciso nem falar muita coisa...
Por esse caminho as pessoas também descem de sled, como eu e Sarah tentamos fazer lá na Suíça - com um êxito bem próximo de ZERO. Deu vontade de tentar de novo! Minha parte preferida da descida foi quando as nuvens começaram a baixar e virar uma névoa cada vez mais densa. Cenário de filme!
Quase 2,5km depois e 700 metros mais próximos do nível do mar, se encerrava ali nosso fim de semana nas montanhas de Spitzingsee. Além das memórias lindas - tanto as visuais quanto as gastronômicas - trouxe de recordação uma dor bem típica de quem há muito tempo não se exercita tanto: aquela que vai do dedo do pé aos últimos fios de cabelo.
Eu geralmente relaciono a Alemanha muito mais às casinhas típicas, aos espaços urbanos mega modernos, aos seus livros, sua História e às suas máquinas. Foi lindo esse primeiro encontro com a natureza daqui. E eu mal posso esperar pelo próximo...
Tenha uma semana schön, gente! E até mais :)