Tem
coisas que a gente aprende e não tem quem nos faça esquecer. Na minha vida
escolar, eu nunca tive rotinas muito disciplinadas de estudo. As boas notas
(pelo menos até entrar no IFRN... hehe) eram resultado de pouco esforço, na
verdade. Porque o que eu sabia ninguém tirava de mim. Simplesmente prestando
atenção eu conseguia reter o conteúdo que precisaria para as provas. E se o
conteúdo me interessasse, então ele estava retido pro resto da vida.
Eu
vivi uma paixão intensa por História e Geografia principalmente na sétima e
oitava séries. A professora Vanubia não só dava aulas brilhantes, mas também me
cercava de incentivo pra não deixar esse fogo apagar – quer fosse nos
recadinhos que ela escrevia nas minhas provas, quer ajudando a realizar as
fantasias que eu criava, como a peça que fizemos da lenda do Minotauro em uma
das feiras de ciências da Escola e Curso Crescer.
Lembro
que foi um esforço aceitar que a época de estudar as Civilizações Clássicas
tinha passado. Logo chegou a Era Medieval... E logo chegou o Iluminismo. E é
bem verdade que, hoje em dia, eu não conseguiria atribuir datas e nomes aos
bois dessa era. Mas se você me perguntar quem formulou a teoria da Tabula Rasa (do latim, tábua raspada),
eu vou encher os pulmões e dizer com segurança que foi o inglês John Locke, no
século XVII – mesmo já fazendo mais de 10 anos dessa aula, e mesmo nunca mais
tendo precisado recorrer a esse conteúdo no ambiente escolar. Eu aprendi pra
sempre.
Segundo
Locke (e nas minhas próprias palavras), todos nós nascemos como folhas em
branco – tabulas rasas, que vão sendo
preenchidas e esculpidas ao longo da vida. Adoro pensar que, enquanto
experimento, leio, aprendo, questiono, penso, teorizo, observo, duvido, acerto
e erro, estou preenchendo a minha tabula.
Na minha opinião, quando a gente encara a vida assim, fica mais fácil valorizar
o que vem ao nosso encontro. Afinal, seria terrível chegar ao final dos meus
dias e constatar que a minha tabula consiste
em retas e pontos simples e pouco coloridos, enquanto ela poderia ser um
emaranhado de conexões, desenhos, estampas das mais diversas cores.
Penso
sempre na minha tabula, mesmo quando a
estou preenchendo por métodos menos convencionais – com uma grande mochila nas
costas viajando sozinha pelo leste europeu, por exemplo. Não suporto admitir
que, em muitas ocasiões, eu poderia ter completado espaços de forma muito mais
profunda ou em áreas diferentes. Mas o que eu não fiz, eu não fiz. E acho bem
normal que, em alguns momentos da nossa vida, o nosso ritmo de trabalho com a tabula varie.
Tudo
isso pra dizer que, quando minha ficha finalmente caiu e me deixou perceber que
eu estou em um país que é referência absoluta em Educação, os cantinhos vazios
da minha folha em branco começaram a gritar por preenchimento. Eu queria ter
uma experiência no ambiente universitário alemão. E nada melhor do que a
motivação pra fazer a gente agir e descobrir os caminhos, né? Em um mesmo dia,
enviei e-mails pra todas as universidades de Munique, perguntando se ofereciam
vagas para alunos visitantes.
O
que eu queria aprender? Qualquer coisa. E quando a Universidade Técnica de
Munique, umas das melhores do país, me respondeu com uma lista das disciplinas
que eu poderia cursar, escaneei mentalmente cada uma das matérias disponíveis
pra tentar entender qual faria mais sentido.
De
Medicina a Educação Física, tinha tudo – menos Comunicação, que é a minha área.
Juntando As e Bs, Xs e Ys, preferências pessoais e horários, e principalmente
levando em conta o que este país tem de mais forte, tomei minha decisão: cursar
as disciplinas de Konstenrechnung (Contabilidade) e Volkswirtschaft (Economia). Fui hoje pela segunda vez e já não vejo a hora de chegar a semana que vem. Quem
diria?... Logo eu, que nos últimos meses de faculdade estava quase que
literalmente me arrastando pras aulas, voltei correndo de braços abertos pro
ambiente universitário – ainda que numa área completamente diferente da minha
formação! Eu mal acredito no quanto estou encantada com essa oportunidade e com
o que tenho aprendido. Mas os detalhes dessa experiência eu só vou contar no
próximo post. De brotos acadêmicos a lições de macroeconomia, tenho muito pra
falar!
Hoje
à tarde precisei de um tempinho pra pensar e agradecer a Deus por tantas
oportunidades legais, como essa. De verdade, gosto muito da história que eu e
Ele estamos escrevendo. Saí de bicicleta e, no mesmo tipo de motivação que me
faz entrar num auditório lotado pra aprender algo que não é minha obrigação
saber, tomei um caminho pelo qual nunca tinha passado antes. Enquanto deixava o
queixo cair com os prédios lindos e o verde fantástico ao meu redor, fui
lembrada mais uma vez do quanto é valioso a gente se abrir pro que é
positivamente novo. Tomei banho de chuva e deixei mais essa marquinha estampar
a minha tabula - que não está mais tão rasa...
O que você vai colocar na sua folha em branco hoje?